28 de fev. de 2009

Peter Pan Teenager: Em busca da densidade perdida



A eterna criança. É esse o mito. Desta vez, o Peter foi adaptado. É a Peter. Moça. É a adolescente eterna. Voa, voa, voa, como o Peter Pan menino. Vive num mundo de ilusão, com piratas e amigos, muitos amigos. Ri e luta, e luta rindo, como o Peter Pan menino. As distinções são de gênero e idade.


Ela não perde a ingenuidade. Nossa heroína é essencialmente visionária: característica do ingênuo, do jovem. Ela não perde a graça e não deixa de valorizar um momento de lazer. E ela é quase emo. Adolescentes são emos. Ela é quase, porque ela não chora, e o Peter menino também não.


Voa, voa, voa, moça Peter Pan. Voa e imagina. Volta moça Peter Pan. Volta do teu vôo, cresce e age. E ela? Como toda boa adolescente, voa, imagina, vê, mas só depois... Depois cresce e age. Essa parte é para adultos. Depois quando? A moça Peter não adultece. Só adolesce. Cada vez num grau mais intenso de se adolescer. Entretanto, quer sonhar sonhos menos frívolos. Quer ter vôos menos divertidos e mais interessantes, e relevantes, que acrescentassem algo. A quem? Destinos certos são para adultos.


Ah, a moça Peter. Ela só adolesce. Até mesmo em seu querer. Eternamente, adolescendo e frivolizando. Cada vez sua superfície mais a representa. Então, ela entristece e não chora. A quem acha que só vê a pontinha de seu iceberg... Não há muito mais para se ver.


[Nanda não quer confete, só desabafar mesmo.]

E agora, José?

Amanhã eu vou embora.
Volto pra Bauru, a minha segunda vida...
Três meses e seus percalços são suficientes pra afastar tanto estas vidas, fazer pensar em tudo, fazer amar e odiar cada coisa que tenho nelas and then let it go...

Do futuro nada sei.
Só sei que a minha avaliação do agora me mostra que amei e odiei (de novo os extremos, tão presentes na minha vida ultimamente) muitas coisas que vivi nessas férias. No fim eu vejo que foi muito bom, apesar dos pesares.
Conheci pessoas muito legais que vejo que farão parte da minha vida daqui pra frente, viajei e foi ótimo, fui em novos lugares, me permiti fazer coisas que outrora não faria, badalei pra caramba, curti muito, fiz muita merda, dancei muito, ri e chorei.

Vamos ver o que o amanhã irá me proporcionar e como eu irei aproveitar as oportunidades.

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blue

25 de fev. de 2009

'todo carnaval tem seu fim'

[los hermanos]

16 de fev. de 2009

Terapias e terapeutas

Na verdade, não sabia o que escrever. Isso era mais ou menos como acontecia em terapia; chegava lá e não tinha idéia do que a mantinha naquela salinha minúscula e deprimente, sem um divã sequer. Esse negócio de só psicanalista usar divã é balela que esse outro povo inventou para gastar menos dinheiro com o consultório. É, é isso. E o cliente que se exploda. Prefiro mesmo ir à um psicanalista.
O fato é que sempre arrumava um assunto para escrever, assim como sempre arrumava coisa qualquer para falar com a terapeuta, inclusive a gravidez da profissional. Estava aí uma coisa que não conseguia entender: como aquele ser estranho, botas púrpuras e cabelo laranja de comprimento duvidoso poderia ser mãe. Verdade que para ela, esse era um conceito muito prático (tipo, pagar ou não as contas), sem nenhum encantamento, o que parece ser reflexo de sua infância abandonada. De qualquer forma, a mulher se vestia estranhamente e falava enrrolado o suficiente para que duvidasse das habilidades da terapeuta com crianças. Com crianças em sua casa, não no consultório.
Após a sessão, olhou-se ao espelho. Assustou-se ao ver a mulher de botas cabelos coloridos em primeiro plano.

Mainina está com sono e sem inspiração. No momento, respira com a ajuda de aparelhos.

14 de fev. de 2009

Eu e minhas melodias

Os dois homens que mais admirei na vida têm, assumidamente, a mesma trilha sonora. Sabe aquela música com a qual a gente se identifica plenamente? Pois é. Estranho. Eles não se conhecem. Um bom amigo um dia me disse que era a minha trilha sonora também. Também não os conhece, nem sabia que era a trilha sonora deles. Quer saber? Deve ser a minha mesmo.

Ontem acordei triste. Chegou a noite, estava só. Algo que só intensifica a tristeza, acho que são saudades da minha família. Devem ser. Pra atenuar o clima, forcei a barra: aluguei dois filmes, comi guloseimas engordativas e saborosas. Melhorei o ânimo por alguns momentos. Hoje acordei, e voltei ao estado down. Resolvi dar uma de consumista, comprei umas camisolas de cetim, toda mal intencionada. Na minha cidade de interior, minhas compras vão gerar falatório – ou não... Espero que não. Dormi a tarde toda (resquício da pseudo-curta-depressão). Acordei. E estou lendo. E ouvindo Beirut durante a leitura. Estou no quintal, perto das minhas flores e do meu Hollywood Caribe. Esse é só um intervalo, volto já ao TCC.

Minha tristeza e minha melodia estão intrinsecamente conectadas. Duvida?

{Mesmo conhecendo a música... Atente à
letra. É fantástica. E você, qual
a sua trilha sonora?}

  • Ouro de Tolo
    Raul Seixas

    Eu devia estar contente
    Porque eu tenho um emprego
    Sou um dito cidadão respeitável
    E ganho quatro mil cruzeiros
    Por mês...

    Eu devia agradecer ao Senhor
    Por ter tido sucesso
    Na vida como artista
    Eu devia estar feliz
    Porque consegui comprar
    Um Corcel 73...

    Eu devia estar alegre
    E satisfeito
    Por morar em Ipanema
    Depois de ter passado
    Fome por dois anos
    Aqui na Cidade Maravilhosa...

    Ah!Eu devia estar sorrindo
    E orgulhoso
    Por ter finalmente vencido na vida
    Mas eu acho isso uma grande piada
    E um tanto quanto perigosa...

    Eu devia estar contente
    Por ter conseguido
    Tudo o que eu quis
    Mas confesso abestalhado
    Que eu estou decepcionado...

    Porque foi tão fácil conseguir
    E agora eu me pergunto "e daí?"
    Eu tenho uma porção
    De coisas grandes prá conquistar
    E eu não posso ficar aí parado...

    Eu devia estar feliz pelo Senhor
    Ter me concedido o domingo
    Prá ir com a família
    No Jardim Zoológico
    Dar pipoca aos macacos...

    Ah!Mas que sujeito chato sou eu
    Que não acha nada engraçado
    Macaco, praia, carro
    Jornal, tobogã
    Eu acho tudo isso um saco...

    É você olhar no espelho
    Se sentir
    Um grandessíssimo idiota
    Saber que é humano
    Ridículo, limitado
    Que só usa dez por cento
    De sua cabeça animal...

    E você ainda acredita
    Que é um doutor
    Padre ou policial
    Que está contribuindo
    Com sua parte
    Para o nosso belo
    Quadro social...

    Eu que não me sento
    No trono de um apartamento
    Com a boca escancarada
    Cheia de dentes
    Esperando a morte chegar...

    Porque longe das cercas
    Embandeiradas
    Que separam quintais
    No cume calmo
    Do meu olho que vê
    Assenta a sombra sonora
    De um disco voador...

    Ah!Eu que não me sento
    No trono de um apartamento
    Com a boca escancarada
    Cheia de dentes
    Esperando a morte chegar...

    Porque longe das cercas
    Embandeiradas
    Que separam quintais
    No cume calmo
    Do meu olho que vê
    Assenta a sombra sonora
    De um disco voador...


[Nanda não está sentada no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar]

9 de fev. de 2009

.SONHO.

NAQUELE DIA perdi-me muito cedo.
eram ruas e carros em alta velocidade e a canção do velvet ‘sister ray’ sem fim tocando ao fundo do vidro soletrada num surto frenético.
era um grupo de teatro e todo aquele barulho e eu perdida caminhando rumo a uma igreja neoclássica dentro de uma pintura do benedito calixto que alguém roubara do masp para expor na pinacoteca de santos.
primeiro evitei ir até a geladeira pegar uma cerveja gelada porque minha mãe estava na sala e a cerveja não era minha e eu não tinha mais cigarros e também não queria fumar NAQUELE MOMENTO e eu temia a inveja e a solidão da cerveja presa no gelo. frieza espontânea e arrogante quando o que está em jogo é somente sede e necessidades fisiológicas por um líquido que abstrai a vida cotidiana para uma vida alternativa.

depois veio a fome e o calor e a saudade enquanto eu caminhava sobre o palco carregando uma vela acesa com as duas mãos firmes para ajoelhar-me diante do público num estado meditativo quase como um monge um sábio um sabiá pendurado no galho mais alto da árvore frutífera camuflando o ego exposto do artista entregue aos deuses.
ENCONTREI-ME acordada deitada sobre a cama estática no final da canção. era tarde...